terça-feira, 25 de setembro de 2007

O engolidor de fogo

Peço licença a minha companheira de trabalho, a brilhante jornalista Sílvia Salgado, para postar um artigo seu, brilhante como vários que ela tem escrito, e que com certeza brevemente irão estampar a capa de algum livro.

Sílvia Salgado

O engolidor de fogo

Marido rico, dois filhos adolescentes,cachorro chic, apartamento de andar inteiro, casa na praia, três cartões de crédito, closet imenso de roupa, outro só de sapatos. Pelas suas contas deveria ter uns 250 pares; não usava nem um terço, é verdade, mas tinha compulsão por um salto, e daí? Gostava, podia e pronto. Não era feliz, nem infeliz e procurava não pensar sobre essa coisa de felicidade. Sua mãe desde pequena ensinou-lhe que a vida é pra ser vivida, e não fuxicada. "Se procurar, você encontra", era a frase que mais ouvia desde que se entendeu como gente. O maridão saía com outras mulheres, mas se no começo doía, o tempo fez com que se acostumasse. Teve dois relacionamentos fora do casamento com amigos em comum. Um troca-troca meio que natural no mundo em que transitava. Mas foram coisas rápidas que no fundo trouxeram mais frustração do que prazer. Decididamente não nascera para trair, embora todos à sua volta o fizesse.

Mas, numa hora qualquer do dia, no auge de uma festa, no meio de um filme ou passando baton, em frente ao espelho, Beto vinha-lhe à cabeça. Ele fora o primeiro namorado, o autor do primeiro beijo, do primeiro amasso, do primeiro pecado. Era lindo, moreno, livre das convenções da época, sonhador e aventureiro. Namoraram por três anos, fizeram planos, escolheram nomes dos filhos que teriam, projetaram morar num sítio, plantar e colher, entre discos, livros e o canto dos pássaros. Numa noite ele chegou dizendo que o pai havia sido transferido para Curitiba, implantar uma fábrica lá. Estava de partida, mas voltaria para buscá-la. No começo muitas cartas, telefonemas mas depois Beto sumiu no mundo. Cinco anos depois soube que os pais dele haviam morrido e ele, rumo ignorado



Já casada, com dois filhos, um dia acompanhou o marido a um congresso em Curitiba. Lá empreendeu uma busca pelo paradeiro do homem amado. Procurou no catálogo, perguntou nas lojas, nos bares, assim como quem não quer nada. Afinal, o pai dele era um engenheiro renomado. Quem sabe alguém não teria uma pista? Nada. Voltou decepcionada e tocou a vida para frente, mais sempre pensava, "E Beto"? Em noite escura como breu, o céu pontuado de estrelas, ela debruçava-se na janela e fazia a pergunta, olhando para o cosmo: "onde andará Beto"? Tinha época em que fantasiava que ia ligar a televisão e vê-lo tocando guitarra ou violão – ele era bom nos dois instrumentos. Em outra ocasião achava que ia abrir o jornal e ver uma crítica de um livro de Roberto Bernardo. Na juventude ele fazia poesia, contos e crônicas e sonhava em ser escritor. Numa noite, ela voltando do shopping, parou num sinal enquanto um homem e um garoto engoliam fogo. A cena não era comum na cidade; tinha visto malabares e engolidores de fogo só no Rio e em São Paulo. Ficou prestando atenção e de repente, quando o cara apagou a tocha com a boca, ela fixou o olhar e apesar dos estragos do tempo e da vida, não teve dúvidas: era Beto. Ele se dirigiu ao carro ao lado para apanhar moedas e o menino veio em sua direção. Ela ficou paralisada, muda, o sinal abriu e uma onda de estridentes buzinas fez com que engatasse a primeira no carro e saísse dali.

Parou lá na frente, coração disparado, boca seca e nenhuma dúvida: era Beto. Podia viver mil anos que o reconheceria: aquele olhar, o queixo quadrado, o cabelo comprido, agora grisalho, o andar desengonçado e charmoso. Fez o contorno, voltou e lá estava o homem e o menino exercendo o ofício dos desvalidos pela sorte: tentar sensibilizar as pessoas nos sinais de trânsito, numa noite fria, de vento sul. Ela estacionou na esquina e quando o sinal abriu, encontrou-o na calçada. Os dois se olharam. "Beto!", disse com voz trêmula. Ele ficou em silêncio por alguns segundos e respondeu com um "olá" constrangido e emocionado. Ficaram se olhando, se medindo, ela avaliando o que havia restado daquele homem que guardara por mais de 20 anos. Ele estava envelhecido para idade, maltratado e faltava-lhe um dente. Tentou puxar conversa. Ele foi curto e grosso: "Vá embora, menina. Eu tenho que voltar ao trabalho". Ela ainda tentou falar da sua busca, dos anos que aguardara aquele encontro quando o sinal fechou e ele voltou com os seus apetrechos para o meio da rua. No percurso para a casa as lágrimas caíram fartas, tão fartas que molharam a blusa, escorreram pelo decote e fizeram cócegas entre os seios. Entrou em casa com a cara inchada, trancou-se no banheiro, encheu a banheira de água quente e ficou por lá com olhar perdido, sensação de vazio no peito, lágrimas fazendo buraquinhos na espuma branca. Mais tarde, encolhida na cama, abraçou-se ao marido, chorando. Ele quis saber, insistiu de maneira carinhosa, deu-lhe um calmante, insistiu outra vez para que ela falasse. "Não posso", choramingou. "Como – pensou – eu vou dizer que hoje perdi para sempre o grande amor da minha vida"? E, em silêncio, sentiu o tamanho do buraco que aquele encontro abrira em sua alma...

Pandemia

O caso é grave, doutor. O prognóstico não é bom. O vírus é mutante e letal. A crise atravessou o Atlântico. Não aquela de que falava nosso desfavorecido molusco. Aquela crise, como sabemos, foi morta a canetaços por ordem do eneadáctilo caeteense. O batráquio barbudo não perderia a oportunidade de tomar para si o mérito da salvação. Falando na Zoropa e não satisfeito com a exibição de conhecimento geográfico, que seguramente não adquiriu na escola, demonstrou entusiasmo nos comentários sobre economia. Falo de outra crise. Não sei bem que rumo tomou, mas o fato é que chegou a Nova Iorque.

Mahmoud Ahmadinejad, o número dois no governo iraniano, foi participar da Assembléia Geral da ONU. Quis aproveitar para visitar o Ground Zero, onde ficavam as torres gêmeas, mas não foi possível, apesar de o local estar dentro do raio de 25 milhas de distância em que os diplomatas e representantes internacionais têm assegurado direito de transitar. Seria curiosidade de turista? Muita propaganda foi feita sobre os memoriais ali construídos. Eu também gostaria de conhecer o lugar. Ou será que é orgulho de artista? Infelizmente a polícia de Nova Iorque não permitiu a visita. Daria muito trabalho. É um lugar aberto. Imaginem o tumulto... muita confusão. Melhor evitar.

Em uma fantástica demonstração de liberdade de expressão, Ahmadinejad foi convidado a falar na Universidade Columbia, criando grande alvoroço. Dizem por lá que os ingressos para assisti-lo esgotaram mais rápido que os ingressos para show do Bruce Springsteen. A universidade estava prestes a realizar um experimento antropológico. Nem a mulher barbada e o homem que engolia vespas conseguiram atrair tanta atenção. As filas só não eram maiores que as do zoológico. Alguns setores da população ganharam as ruas em protesto. Carregavam placas e faixas ao redor do campus enxotando o inimigo. O próprio presidente da Universidade Columbia, Lee C. Bollinger, abriu os trabalhos com um ataque verbal forte, descortês e nada sutil ao presidente iraniano. Não era preciso. Era uma excelente oportunidade para conhecer melhor o líder persa, uma oportunidade para mostrar-lhe o que o Ocidente tem a oferecer. Que orgulho! Uma civilização que permite ao suposto inimigo exibir suas idéias contra a mesma civilização que o recebe! Fico satisfeito ao ver um crítico do Ocidente participando de nossos rituais democráticos. Fico feliz ao ver que ainda existem universidades autônomas, livres de pressões governistas, universidades que privilegiam o conhecimento e não temem os métodos democráticos. Quem diria que um eminente líder de um país totalitário participaria de uma Assembléia Geral e de um debate universitário! Um repórter não desfruta dessas regalias no Irã. Um iraniano não desfruta dessas regalias no Irã. Um iraniano no Irã pode falar livremente sobre todos os assuntos, menos o que é proibido. Excetuando algumas proibições, são livres! Um lugar maravilhoso! Mulheres livres para exercerem seus deveres e obedecerem as leis religiosas! Homens livres para trabalharem corretamente pela grandeza da nação! Jovens livres para estudarem o que quiserem entre as opções oferecidas pelo governo e sobre a grandeza iraniana.

Ahmadinejad é louco, mas não é burro. Moderou seu discurso. Não respondeu as provocantes perguntas do Sr. Bollinger da mesma forma que faria em casa. Esquivou-se dos ataques com habilidade, coisa que já não se vê mais por aqui, desconversou, evitou vaias e ainda falou sobre o amor a todos os povos.

A Universidade Columbia perdeu uma excelente oportunidade de aplicar um antígeno contra pandêmico patógeno da burrice, a mais mortífera e contagiosa inópia humana. Quantos alunos necessitados estão reunidos em Nova Iorque! Aulas de história, sociologia, política, direito internacional, comércio internacional, economia e tudo aquilo que falta naquelas cacholinhas ocas. No currículo também constaria geografia, conhecimento de extrema necessidade aos campeões das gafes. Já imagino o professor apontando no globo terrestre e dizendo: “Austrália e Áustria são dois lugares diferentes. Um fica na Oceania, perto da Indonésia. O outro, lá na Europa, perto da Alemanha. O oceano Atlântico...”

domingo, 23 de setembro de 2007

uma brecha...

Há menos de um ano, o coordenador do curso de Comunicação Social trouxe na sala de aula algumas revistas desconhecidas para nós, aspirantes a jornalistas metidos a achar que revista mesmo são apenas aquelas triviais da editora Abril, globo... Ele mostrou um universo, considerável, do jornalismo “anônimo” para nós, entre elas as antiguíssimas O Cruzeiro, Realidade, outras não tão velhas assim com Caros Amigos, e a revista em que servirá de tema para o post de hoje, a Piauí.




Em suma, sem critério algum, todas dividiam o mesmo visual; estranhas para qualquer ser humano acostumado com o formato Abril. O tamanho assusta. A diagramação e a textura do papel lembram jornais, o conteúdo tem uma linguagem esquisita, dificilmente são bem recebidas logo de cara.

Nunca fui de comprar revistas, as que eu normalmente leio são trazidas pela minha mãe, emprestada da biblioteca da empresa onde ela trabalha ou da biblioteca da faculdade. Não tenho paciência em saber, datalhadamente, a morte mais significativa do mês ou a trajetória do avião, do ônibus, dos terroristas, no maior acidente da história, até a próxima quinzena. O resto? Também não me interessa a ponto de comprá-las. Se a minha intenção é mesmo ser jornalista? É mas comecei a estabelecer algumas opiniões sobre o jornalismo impresso, inclusive o jornal, mas isso é assunto para um outro post “normal”.

Quando recebi a Piauí na minha mesa, em uma daquelas sextas-feiras à noite, em que você gostaria de estar em qualquer lugar do mundo, mesmo que fazendo nada, menos na sala de aula da faculdade, eu e a revista “principiamos” uma relação de desconfiança, preconceito e grosseria – pelo menos da minha parte. É como se colocassem um filho nos teus braços e dissessem, “toma, que o filho é seu”, sem ao menos você ter ficado grávida, sabe? Mais ou menos assim. Fiquei com a revista durante alguns minutos sem entender como deveria ser lida, por onde começaria e sobre o que, exatamente, ela se tratava. Não, não é simples assim. Normalmente é pelo começo, eu sei, mas eu mantenho uma insuportável mania de saber aonde estou pisando.






Primeiro um ritual muito particular: ler as revistas de trás para frente, não me perguntem o porquê. Deslizo as mãos nas folhas para sentir a sua textura e a essência, feito, talvez e por que não, uma cega. Percebo as fotos, nas quais não são exatamente fotos, mas um punhado de imagens misturadas, desenhos, montagens com cores de gosto bastante duvidosas... Lembro-me que a primeira tinha o Che Guevara estampado na capa com uma camiseta, obviamente vermelha, mas com a cara do Bart Simpson! Pensei, “deve ser uma revista de humor fácil”. Depois, retornando ao meu ritual, a primeira “matéria” tinha a intenção de ser religiosa, a figura e o editorial não dava outra margem: “O limbo não passa de um telogúmeno”. Hã? Continuando... “ O que a libertinagem, a franqueza, as salas de espera e, talvez, a irmãzinha do Papa têm a ver com o destino das crianças inocentes”.

“Mas que merda é essa?” Falei em voz baixa. Óbvio que eu poderia simplesmente ter acabado com a dúvida lendo a matéria. Continuei imaginando o que viria pela frente ou melhor dizendo, por trás. A seguinte matéria, aliás, a que vinha antes, dizia, de uma forma ainda mais enigmática. “aí é luta, patuléia – uma desavença fonética opõe a jovem guarda aos palindromistas tradicionais, seria ´Acena vanessa!’ aceitável?”
Desta vez foi em alto e bom tom...
Continua...

sábado, 22 de setembro de 2007

Pintando O Quarto

Pintar o quarto é uma beleza.
Tira todos os móveis. Guarda todos seus objetos em caixas e malas. Forra o chão com jornal. Pega a escada, a tinta e os pincéis. Só alegria. Cor vibrante. Uma renovada no visual. Risos e piadas. O pé direito do quarto é alto, hein? Usa o extensor para o rolinho (na verdade é um cabo de vassoura, o extensor original custava muito caro). Fazendo força para a tinta pegar direito lá em cima. Putz! Tem que colocar fita crepe para a tinta colorida não manchar a parede branca. Pega a escada e passa a fita em todos os cantos. Ufa. Continua a pintura. Menos risos e piadas. Suor. Cansaço. Que horas essa merda vai acabar? Ah, mas o resultado final vai ficar bonito. Vale o sacrifício. Hmmm. Ficou meio manchado, não? Droga. Vai precisar de uma segunda demão. Merda. Mais cansaço e suor. Que se foda. Fica assim mesmo. Não, não vai ficar bom. Hora do descanso. Água e bolachas. Observando a parede. Não é que essa cor é bonita mesmo? Vai ficar do caralho. Segundo round. Mais um pouco de esforço. Cobrindo todas as manchas da pintura. Eu deveria ter pago alguém para pintar essa merda. Desgaste físico. Calor. Manchas cobertas. Apreciando o visual. Que beleza. Realmente, foi uma ótima escolha. Depois de tudo arrumado, vai ficar mais bonito ainda. Olha pro corredor. Caixas, malas e móveis fazendo fila para entrar.
Ê putaquepariu.
Cadê o baldinho do Photoshop quando a gente precisa dele?

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Gosto muito de moda, não sou doente e nem nada, não tenho estilistas favoritos, estilo fixo, não entendo muito, não sei pregar botão, mas tem algumas idéias que eu aprecio e a alta costura é uma delas. Definitivamente acho uma arte respeitável, não que o resto não seja, no entanto quanto mais detalhes, quanto maior for o trabalho e o cuidado com tecidos e a costura, eu valorizo mais, como qualquer outra coisa. Ontem fui cobrir um dia muito especial "da semana de moda londrinense" e tomei um susto, apavorei... Cláudio Pádua, Bruno Passos e JulianaVidela, estudantes de moda, expuseram a sua peças em um desfile fantástico. Além de mim eles deixaram todo mundo de boca aberta, babando, sentindo-se em uma daquelas semanas de moda europeia. Vou colocar alguma fotos para vocês entenderem o que eu estou falando.





claúdio








Bruno















juliana






segunda-feira, 17 de setembro de 2007

A morte do rock

Nos anos 80, o filme "A Vingança dos Nerds" fez muito sucesso (eu mesmo adoro). O filme é uma sátira da vida universitária dos nerds, um grupo de excluídos vítima de preconceito na escola onde seus integrantes não conseguem se relacionar com o sexo oposto, usam óculos fundo-de-garrafa, vestem-se mal e são incapazes de chutar uma bola. Desconhecem qualquer assunto que não se relacione à sua obsessão predileta e possuem vida social zero. Nisso eles fundam sua própria fraternidade, a engraçadíssima “Lambda Lambda Lambda” após terem sido rejeitados por todas as outras do campus, e partem para o duelo contra os "gostosões" da faculdade

Na última edição da Revista Veja saiu uma matéria intitulada "Os Remelentos do rock". Nela, são citadas bandas que seguem o legado deixado pelos Los Hermanos de mistura de ritmos, fusão de instrumentos e que o colunista Reinaldo Azevedo chama de "remelentas e malfadinhas", representadas por grupos como o Mombojó, Móveis Coloniais de Acaju e o Teatro Mágico. Particularmente, não conheço o trabalho de nenhuma delas, curto muito o Los Hermanos, mas também concordo com a matéria. Essas bandas estão levando o rock, ao extremo da chatice.

Onde eu quero chegar? Bem, parece que a vingança dos nerds do século XXI ganhou outra versão. Eles resolveram comprar guitarras, misturar com tubas e flautas e colocar para fora a dor de terem sidos rejeitados pelas gostosas do ginásio e da faculdade. E o que é pior, ou melhor, dependendo do seu ponto de vista, estão ganhando fãs a cada dia que passa. Já repararam nas letras dos Hermanos ("Nunca acreditei na ilusão, de ter você para mim..." Anna Julia), (Eu que já quero mais, ser um vencedor, levo a vida devagar, pra não faltar amor..." O Vencedor). O Móveis Coloniais de Acaju explica seu nome com uma história esquisita sobre uma batalha no passado que uniu índios e portugueses e fazem um som que denominam como "feijoada búlgara"(heinnnn??). O pessoal do Teatro Mágico não fica para trás na excentricidade. Seus integrantes se vestem de palhaço e além de cantar e dançar, fazem outros malabarismos e entre uma música e outra ainda param para um debate bicho-grilo sobre a "pluralidade do ser". Com todo respeito aos fãs mas, chato pra caralho hein?



Eu me lembro que quando eu era criança o rock ainda guardava resquícios do passado, assim como o surfe. Todo rockeiro era cheirador de pó e todo surfista era maconheiro. Eram tratados como sujeitos que tinham até pacto com o diabo, graças principalmente à folclórica história de que o Ozzy Osbourne comeu um morcego vivo no palco num show do Kiss. Tempos bons que não voltam mais. Após ter perdido todo glamour da época de loucos como Sid Vicious e Janis Joplin, o rock verdadeiro deu seu último suspiro com o tiro na cabeça de Kurt Cobain em 1994. A explosão do Oasis em 1995 e as atitudes de Noel e Liam resgataram a atitude do bom e velho rock´n roll. Me lembro que quando comecei a ouvir o Definitily Maybe (primeiro cd do Oasis) na época, mamãe ficou superpreocupada e chegou a me levar em várias palestras anti drogas. Coisas de pais superprotetores.
Hoje, Bem, hoje, uma criança fã de rock vai dar de cara com quem? Bons carinhas que tocam Pop melódico? O CPM 22? Os Detonautas com seu ultra-big-power-extra chato Tico Santa Cruz fazendo seu enésimo discurso contra o sistema e contra a violência? Com o pessoal lá de cima e seu rock cabeça? O Cris Martin e sua exigência de só tocar para público sentado e sem patrocínio de bebidas alcoólicas? Eu tenho uma teoria que a maioria dessas bandas conhece as suas limitações e sabe que nunca farão o sucesso desejado e tentam chamar a atenção do público e da mídia dessa forma. Fazendo gracinhas e posando de bons moços através de atitudes politicamente corretas.


Por isso e não só pela música, curto tanta essa banda. Esses caras são dos poucos que ainda seguem os princípio do velho rock: Liam e Noel Gallagher. Depois de aposentar as guitarras e tubas, a galera do Coldplay, Detonautas e Teatros Mágicos da vida estarão cuidando lindamente dos seus netinhos, fazendo programas sociais e discursos contra a violência, enquanto os dois vão estar enchendo a cara em algum pub da Inglaterra. As mentes de Liam e Noel, são lugares onde o rock existe na sua pura essência.

"Foi bom a gente ter ganho, porque senão a gente ia quebrar tudo."
Liam recebendo um prêmio da MTV"

"Disciplina? Eu não sei o significado dessa palavra"
Liam

”Eu ganho essa porra dessa grana e não tenho tempo para gastar."
Noel

"Eu entrei no palco e vi uma cadeira voando, depois vi uma mesa e pensei... vai ser uma grande turnê"
Noel
"Sou apenas um bêbado de Manchester que toca Rock 'n' Roll"
Noel

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Bingo

Horácio suava. Mordia nervosamente a parte interna de seus lábios.
Batia o lápis compulsivamente na mesa. Estava muito tenso.
"Bê 14! Repetindo: Bê 14!"
"BINGO!!! PORRA!!"
As pessoas batiam palmas. Horácio estava em êxtase.
"Ganhei! Bando de filhos da puta! Vizinhança do caralho! Ahahaha! Agora estou livre dessa merda toda e livre de vocês!"
Silêncio no salão. Algumas tossidas nervosas eram ouvidas ali e acolá.
"Lurdinha, nosso namoro acaba agora! Sua idiota. Não preciso mais de você!"
"Horácio!!" - Lurdinha estava chocada.
"Ah, Lurdinha. Vá se foder. Você sabe que eu só estava com você por falta de opção. Nunca falei que te amava."
"Você é um filho da puta, Horácio!" - Lurdinha começou a chorar.
A mãe de Lurdinha, dona Neusa gritou:
"Horácio, sua bicha! Olha o que você fez com a minha filha!"
"Grandes merdas, dona Neusa. E quer saber? As pessoas aqui tem o direito de saber que você rouba roupas lá do brechó beneficiente. Inúmeras vezes eu vi você colocar blusas e camisas dentro da sua bolsa. Velha safada."
Indignação por toda parte. Burburinhos. Olhares de reprovação.
"Quem diria, a Neusa roubando roupa!" "Sempre desconfiei dela, sabe?"
Dona Neusa abraçou a sua filha e começou a chorar com ela.
"E tem mais!" - disse Horácio - "Vou começar a contar vários podres das pessoas aqui presentes!"
Clima de tensão no ar. O que ele iria falar agora?
"Seu Raul, você sabia que a sua filha Sara está grávida do Jefferson?"
"Do Jefferson?! Você está grávida do Jefferson??"
"Desculpa papai... eu... eu... me perdoe" - Sara começou a chorar.
"Sua desnaturada! Fiz de tudo para você e é assim que você me paga? Ficando grávida do mendigo que fica atrás da igreja??"
Mais choro. Berros. Algumas pessoas seguram Raul antes que ele dê um tapa em Sara. Rebuliço total.
"Pare com isso, Horácio! Pare agora!"
"Ah! Agora que eu comecei a me divertir! Cristina, quem bateu no seu carro de madrugada foi o Leandro. Ele tinha acabado de voltar bêbado do puteiro com o Thiago e o Célio. Eles foram comprar maconha da Priscila e na volta fuderam com teu carro. O que foi, Jorge? Não sabia que a sua filha fornece maconha pra galera aqui do bairro? Tá sabendo agora."
Gritos. Xingamentos. Choros.
O salão estava em polvorosa. Horácio ria, satisfeito.
"Bom, agora vocês que resolvam essas merdas. Eu vou é pegar meu prêmio e dar o fora. Nunca mais irei ver vocês na vida, bando de filhos da puta!"
"Você é um cuzão, Horácio!" "Eu vou te matar, Horácio!" "Horácio filho da puta!"
"Ahahaha. Xinguem o quanto quiserem, seus bostas. Agora eu sou rico! Então, Geraldo. Cadê os meus 50 mil reais?"
"Que 50 mil reais, Horácio?"
"Porra! 50 mil reais de prêmio! Ganhei essa merda de bingo, não lembra?"
"Mas Horácio... o prêmio dessa rodada é esse conjunto de panelas..."

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Pessoas/moda/tirinhas/casos/especiarias comportamentais/fatos/literatura/escrotisses/arte.

...moda.

aspirar. Katharin Hamnett.
expirar. Henry Holland

... Henry Holland é mais um estilista do bando modista from UK inspirado nos anos 80. Para quem não conhece as características peculiares daquela geração, Henry ressuscitou as famosas camisetonas 80/tistas, com letras grandes, todas maiúsculas em negrito. Mas, antes que você comece a achar que ele redescobriu a camiseta, daremos um espaço para Katarin Hamnett e a sua moda politizada, justamente com o mesmo estilo.


A marca Katharine Hamnet London nasceu há mais de três décadas e fez sucesso em vários países da Europa e da Ásia. Ganhou o prêmio como Designer of the Year em 84 e Menswear Designer of the Year no mesmo ano, em evento na Ásia. As suas camisetas com o mesmo estilo das de Henry - letras grandes e talz - carregam frases do tipo "Education Not Missiles", "Stay Alive In 83" e "Worldwide Nuclear Ban Now". A sua moda teve uma repercussão tão grande que fez com que o jens, na época, tirasse, digamos, férias. Hoje, Henry retorna com uma releitura de cores e frases, sem políticagem, mas não menos crítico: "love me some Lohan" e algumas piadinhas sobre celebridades.


Katherine Hamnet/2007



Henry Holland


Henry Holland