quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

"Lagartixando" para as tendências

Como discutir moda sem falar em tendências?
Já que falando a respeito de moda estarei, involuntariamente, discutindo tendências?
Sem contar que postando alguma coisa sobre moda consequentemente também estaria criando um sentido natural para tudo que eu for escrever!!
Depressão.
Será que também não passo de mais uma tendência?
”Estamos em tendências”.
Tudo que nos cerca nos engole.
E não é só a moda que se inclina, são todos os objetos que podem ser consumidos de alguma forma.

Este post é uma derivação do anterior. Acho que esse assunto ainda gera bastante discussão:

“Tendência”

No post anterior dizia que a moda só é irritante, e aparentemente fútil, por culpa das pessoas e suas “tendências”. Não dizia sobre as pessoas comuns - aquelas que vão a lojas de departamento (aliás que eu também vou) e compram a sua blusa cor de pêssego podre para ficar semelhantes a fulana de tal da revista. De toda maneira, sobre os fashionistas bitolados que vivem e discutem só sobre esse assunto. Convivem apenas com pessoas do meio e que transformam a moda numa coisa intocável, chata e o escambau. É esse padrão ilusoriamente dito como “despadronizado”, de estilo, que faz com que a gente venha acreditar ser o original, mas não é.

Em contrapartida a arte que está embutida no contexto e nos conceitos desaparece. E aquilo que é feito com seriedade torna-se, também, parte de uma grande massa ignorada e sob efeito de preconceito.

O meu maior exemplo foi quando entrevistei estudantes de moda. Quando eu perguntei sobre as inspirações, influencia em estilistas e suas preferências, todos sem exceção, me olharam estranho, como quem gostaria de ter dito: "puta merda, estudo tanto tempo, crio o meu formato para você me perguntar em que estilista me inspirei?". A partir desse momento vi que existem cérebros inteligentíssimos por trás de tecidos e cortes estruturados envoltos em modelos magérrimas, que constroem conceitos de acordo com estudos profundos em arquitetura, animais, histórias, obras de arte e teorias. Isso, definitivamente, é moda. Na sua mais pura essência. Ta certo que depois vira tendência e estraga tudo.

Recebi um comentário bastante sensato da Marti, que também tem um blog. Em suma, ela dizia que as pessoas precisam das tendência para se sentirem seguras.Concordo com ela, ainda sim, não apenas no discurso da moda, mas num modo geral. Alguns seres humanos precisam da aceitação. Os que não precisam criam para os que precisam consumirem. Simples.
Falando sobre moda ou não, entenda-se num plano aberto: todas as pessoas bitoladas que só discutem e vivem coisas específicas me deixam com preguiça. Seja ela quem for. E tenho dito.

Quer ver algo estúpido?

Quer ver algo estúpido?












































Elogiei a Vogue inglesa no ultimo post, mas não precisa ser assim sempre. Veja que a tendência do mundo, resumida em uma única peça da Dior, está na edição de dezembro na Vogue China e Japão
É por isso que a moda - como os filmes e as novelas - da arte passa a ser algo tão corriqueiro.
Acabou!
Igual a revistas semanais de fofocas e suas manchetes sobre o casamento. Ou até mesmo todas as revistas mensais (que nós bem conhecemos) dilacerando detalhes a partir de um suposto acidente do século. A tendência burra faz com que a gente se sinta satisfeitos por um tempo. Logo em seguida, nos enjoa, nos dá repugnância. Por último, dando continuidade ao processo cíclico, ela nos abocanha a cabeça, enquanto a gente engole o seu rabo.


pronto falei.

6 comentários:

Marti disse...

Bom, deixa eu começar. Antes de mais nada, quem sou eu pra ter um blog sobre moda. =p Meu blog é sobre muitas coisas e muda ao sabor do vento. Se você o visitasse há duas semanas atrás, daria de cara com a foto de um diabão e o nome "o diabo dá os toques". Mas acho que, como qualquer outro diário, ele é sobre mim e o que em mim se reflete (huuuuuu, olha eu falando bonito). Atualmente, tenho pensado muito sobre a moda, apesar de não ter nenhum conhecimento sobre ela. Por isso o nome "pobre fashionista" - pobre tanto no sentido financeiro, quanto no sentido intelectual.

Enfim, retomando o assunto, tendências são, sem dúvida, mais um sintoma dessa nossa sina de animais sociais. Ser aceito pelo outro é mais que um desejo, no caso da espécie humana, é uma necessidade evolutivamente construída. Ser humano equivale a ser parte de um ou mais grupos, mesmo fazendo pose de independência...

O triste em relação à tendência é quando ela deixa de ser isso a que se propõe, uma inclinação, e passa a ser regra. Seu bem me lembro, a Psicologia Social diz que para a sobrevivência de um grupo, tão importante quanto o que há de comum entre os seus membros é o que há de diferente. Um grupo homogêneo é um grupo em extinção.

Enfim, tendências não são más desde que se atenham a seu papel. E aproveitando todo esse papo evolutivo, vou terminar esse longo e não revisado comentário lembrando o gênio de Darwin que fez questão de deixar bem claro que a evolução parte da diferença.

É isso. Amei os posts. E estou me sentindo a bala que matou Kennedy por ser citada. Ho ho ho.

Marti disse...

JESUS MARIA JOSÉ E CAMELO, O COMENTÁRIO FICOU IMENSO!

O_O

ROS disse...

Sabe, eu me pergunto se não é uma coisa natural. Quer dizer, mesmo que haja muita maldade por trás (consumismo, capital e imposição da vergonha), sempre vai haver pessoas pra dizer aonde devemos ir. E isso não é necessariamente mau. Só "é".

Porque a verdadeira individualidade, que vem de seguir a sua energia (seu coração, sua intuição, nomes, nomes...), é exclusiva de pouquíssimos esclarecidos...que mesmo assim, diversas vezes se vêem tentados a seguir as tais "tendências".
Para as outras pessoas (quase todo mundo), torna-se quase necessário uma direção vinda de fora.

E se as pessoas estão satisfeitas, seria pretensão imaginar que isso não seria "certo" para elas.
enfim...tudo evolui muito devagar.

Unknown disse...

(Preguiça de ler os outros comentários, desculpem qualquer redundância)

Pois então, se uma pessoa faz moda pra outra pessoa, e é aceita por isso, talvez ela faça moda justamente pela aceitação (claro, dinheiro sempre é bom).

E, pra falar a verdade, não entendo muito de moda, mas me parece muita prepotência dar a entender que sua coleção, ou seu filme, ou seu livro, enfim, é isento de qualquer influência (e sim, acho bastante pertinente que se pergunte: 'Você se baseou em algum estilista?', mesmo que a resposta seja 'não, li palmeiras selvagens').

Mya, deixa de ser preguiçosa e revisa um pouquinho o texto antes de publicar, vai.

(Dou o braço a torcer: pelo menos tu publica.)

Mayhara disse...

Marti e Ricardo

Sou super capitalistas. A tendência dá dinheiro! muhauahua
Mas nos torna bastante "encoleirados". Tem coisa que ninguém precisa, mas a tendência nos chama com uma voz bastante sedutora. Mas isso vai estar sempre presente na nossa sociedade, mesmo que evoluíssemos. Não tem como mudar. Enquanto existir dois tipos de alguma coisa para serem vendidos, existirão tendências!!!. E blás. blás.
Eh uma coisa que vai até o infinitoooo
hahahahahahha


beijos obrigada pelo comentário.

Mayhara disse...

Pronto Chico, dei uma arrumadinha.
Escrevo muito tarde essas merdas. Eu sei que não é desculpa. Mas como eu sempre digo: apesar do português ser algo extremamente importante para um bom texto, ainda prezo a idéia, sem idéia o português não vale porra nenhuma. hahah
Mas obrigada, mesmo assim, pela observação.

Respondendo o seu comentário...
Acho que não tem sentido você perguntar para um estudante de moda que está concluindo o curso, sobre as suas influencias em estilistas. Até porque eles são obrigados a criar a partir de um tema. Daquela vez foi “estruturas”. Um estilista estudou a estrutura arquitetônica japonesa, outro sobre o concretismo, por ultimo a estrutura de uma água viva.
Entendeu?
beijos