quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Aqui se faz, aqui se paga.

Hoje dei aula. Duas. Uma para os meus alunos carentes e outra para um professor, colega meu. A história é real. O caso foi grave. Mais um sinal da pandemia planetária. Foi durante o intervalo, durante o recreio dos alunos, na sala dos professores. Eu não tinha mais aulas depois. Ele veio até mim e disse:

- Estou pegando livros na biblioteca da escola. O diretor autorizou. Tem muita coisa boa aqui.

Fiquei duplamente feliz. Sempre é bom que os professores leiam e se instruam. É um alívio saber que a biblioteca tem livros bons. Por um acaso raro, eu estava de bom humor. Assenti sorrindo. Pecado incomum. Ele continuou. Contou do autor. Fiquei arrepiado. (Não vou contar quem era. Também não digo o nome do colega. Não quero arranjar confusão. Sou boa gente, cabra manso. Uma boiada para não entrar em briga e um boi para sair. Ele é meu colega...) Conheço o autor, não conhecia o colega. Os dois são resultado da preguiça. Um viu, não entendeu e resolveu escrever. O outro não viu, quis ler e não entendeu. Os dois não sabem argumentar. O meu colega admitiu:

- Não sou bom nessas coisas.

O outro, o autor, não admite. Escreve sem parar e mal sabe ler. Viva a democracia. (É de coração.) Meu colega, satisfeito, quis me explicar. Coitado. É bem intencionado. Não tem nada na cabeça. Resolvi ensinar, mesmo no recreio. O trabalho do bom professor não tem fim nem descanso. Além disso, é mal remunerado. Nesse caso, voluntário. Demonstrei passo a passo por que o autor não tem razão. Fui gentil e carismático. Já falei: é um pecado raro. Aqui se faz, aqui se paga. Depois da minha explicação, ouvi uma longa digressão sobre o tudo, a inclusão e o nada. Longa, demasiado longa. No final, para a minha surpresa, outra confissão:

- Não posso perder a oportunidade. Esse exemplar está praticamente em estado de novo. Não dá pra deixar de ler um livro teórico pequeno como esse.


O caso era simples: escolheu o livro pelo tamanho.

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Dona Paula. disse...

me conta no ouvido quem é o autor?